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Como observar pássaros e árvores diminuem o estresse e melhoram o humor? Nesta segunda-feira (7), Dia Mundial da Saúde, a RFI propõe uma experiência: praticar a terapia de observação dos passáros, conhecida no Brasil como birdwatching ou simplesmente "passarinhar". Pessoas de todas as idades podem praticar a observação de pássarosInstituto Últimos Refúgios/DivulgaçãoO engenheiro e ornitólogo francês Philippe Dubois é coautor do livro "A Terapia de Observação dos Pássaros" e afirma que a prática, baseada em pesquisas científicas, ajuda a melhorar o bem-estar das pessoas que sofrem de ansiedade ou simplesmente precisam relaxar. "Estudos mostraram, por exemplo, que apenas alguns minutos ouvindo atentamente os pássaros podem diminuir nossos níveis de cortisol, que é o hormônio do estresse, e nos permitem eliminar ou pelo menos reduzir muito os pensamentos negativos por várias horas", disse o autor em entrevista à RFI. Por que a natureza nos faz bem? Talvez a explicação esteja em nossas origens, já que nossos ancestrais mais distantes viviam integrados à natureza. A vida na cidade rompeu esse ciclo. O suiriri costuma ficar pousado em poleiros expostos, seja na parte alta da mata, seja em arbustosMaicon Birdwatching/TG"Acho que estamos em um mundo que se tornou muito urbano. A maioria dos humanos vive em cidades, mas não podemos nos isolar desse lado digamos 'primitivo' da natureza", diz Philippe Dubois."Todos esses pássaros falam comigo, não posso responder, mas simplesmente esses sons ao meu redor me acalmam, me fazem me sentir bem", completa. Estudo britânicoEntre outubro de 2020 e abril de 2023, pesquisadores britânicos realizaram um estudo com 8.000 pacientes em situação precária, que sofriam de doenças mentais. Na época, eles receberam uma receita médica para participar de atividades na natureza. O governo britânico financiou o programa, orçado em quase 7 milhões, cerca de R$ 44 milhões no câmbio de hoje. Os pacientes plantaram árvores, participaram de projetos de jardinagem comunitária, caminharam, pedalaram na natureza ou tiveram aulas de natação em lagos ou rios. Os resultados foram publicados em 2024 pelo Departamento Britânico do Meio Ambiente e pela Universidade de Exeter. Antes de participar do programa, os sentimentos de felicidade dos pacientes eram de 5,3 em 10, bem abaixo da média nacional britânica. Após as atividades na natureza, essa sensação aumentou para 7,5. Os cientistas também constataram uma melhora acentuada no sentimento "de que a vida vale a pena ser vivida", que aumentou de 4,7 para 6,8. O nível de ansiedade dos pacientes caiu de 4,8 para 3,4 – resultados melhores do que as médias obtidas por alguns psicotrópicos. E com o equivalente a 600 (R$ 3.830) por paciente, o custo do método foi muito menor do que o de outras terapias cobertas pelo sistema de saúde britânico. Outras experiências demonstraram que a observação de pássaros tem um efeito favorável na desaceleração de doenças neurodegenerativas, já que os pacientes devem se esforçar para lembrar do nome das aves. Beijo na árvore Além da terapia de observação dos pássaros, existe também a sivoterapia, a terapia das árvores, ou shinrin yoku, inventada no Japão, país onde a natureza e as estações pontuam a vida de seus habitantes. A ideia é tomar um "banho" de floresta e se conectar à natureza. A prática recomenda até mesmo beijar o tronco de uma árvore – tomando claro o cuidado de evitar os fungos que estão na casca, ou de ser picado pelas vespas que possam estar circulando na área.A terapia florestal relaxa e desestressa. Uma pesquisa mostrou que pacientes com câncer que viviam em um quarto com vista para árvores tiveram uma taxa de cura mais alta. O biólogo americano Edward Wilson é autor de uma teoria que tenta explicar cientificamente a necessidade do contato do homem com a natureza. Mas esse conceito, chamado biofilia, é contestado por alguns cientistas. Eles alegam que ela reduziria o ser humano aos seus genes, deixando de lado as influências culturais, que repercutem nas formas de pensar e agir a partir de suas referências sociais. Valérie Chansigaud, historiadora da Ciência, "não contesta os benefícios da natureza", mas faz algumas ressalvas em relação ao conceito de biofilia. "Na antiguidade grega ou latina, nenhum autor achava a natureza maravilhosa. O mar e as montanhas podem gerar angústia, são locais ameaçadores", destaca."A bela natureza é a natureza cultivada: são pomares, campos, não a chamada natureza selvagem", acrescenta. "Em outras palavras, estamos sempre condicionados pela herança cultural que temos e que não necessariamente percebemos." Operador da Usina de Energia de Salesópolis fala sobre 'Birdwatching'