G1
Com mais de 90% das urnas contadas, Noboa estava à frente por mais de um milhão de votos, uma diferença de 12 pontos percentuais (56% contra 44%). Daniel Noboa em comício em Quito, no EquadorSantiago Arcos/ReutersCom discursos curtos, um olhar firme e sempre cercado por um forte esquema de segurança, o presidente Daniel Noboa venceu a reeleição no Equador neste domingo (13) com o compromisso de dobrar a aposta para enfrentar um narcotráfico audacioso. Do alto de um tanque de guerra vestindo colete e capacete à prova de balas, Noboa lança advertências aos criminosos nas áreas mais perigosas do país. Outras vezes, aparece no Instagram com roupas esportivas, guitarra acústica e cantarolando em inglês uma música dos Goo Goo Dolls.Neste sábado (12), ele decretou estado de exceção em sete de suas 24 províncias. A medida, que abrange a capital, Quito, e todo o sistema prisional do país, foi adotada devido ao aumento da violência causada pelo tráfico de drogas. A decisão é válida por 60 dias.Com pouca experiência política, Noboa se tornou, aos 35 anos, o presidente mais jovem da história do Equador. Mas "nada se resolve em um ano", repete o chefe de Estado, hoje com 37 anos, com a aspiração de permanecer no poder com suas políticas de linha-dura contra as máfias.Os narcotraficantes "nunca imaginaram que eu teria colhões para declarar guerra contra eles", disse à revista New Yorker em junho. Se conseguir se reeleger para mais quatro anos, quebrará pela segunda vez a escrita do pai, um empresário do setor bananeiro, que tentou, sem sucesso, chegar à Presidência em cinco ocasiões. Nascido nos Estados Unidos e formado em prestigiosas universidades estrangeiras, Noboa foi eleito para completar até maio o mandato de Guillermo Lasso. O ex-presidente dissolveu o Congresso e abriu o caminho para a realização de eleições antecipadas para fugir da destituição em um julgamento político por corrupção.Noboa é sommelier, quis ser músico quando era mais jovem, tentou ser vegetariano, coleciona pimentas e é apaixonado por carros, cavalos e guitarras, segundo familiares próximos.Embora seja um dos presidentes mais populares da América Latina, as pesquisas mais recentes preveem um segundo turno acirrado contra a esquerdista Luisa González, herdeira política do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017).Militares na véspera da eleição presidencial no EquadorKaren Toro/ReutersMais soldados Atlético e tatuado, Noboa evita se expor em palanques, coletivas de imprensa e entrevistas, mas distribui abraços e selfies por onde passa.Acumulou apoios com uma ofensiva contra o narcotráfico, que incluiu o envio de militares às ruas e dentro das prisões, onde exibiu presos seminus, o que lhe rendeu comparações com o Nayib Bukele, presidente de El Salvador. Também tem sido criticado por organizações de defesa dos direitos humanos por abusos da força pública durante os prolongados estados de exceção, como o deste sábado, e pela declaração de conflito armado interno. Quatro meninos foram assassinados e tiveram seus corpos carbonizados em Guayaquil (sudoeste), em um caso envolvendo 16 militares.Tentativa de proximidade com TrumpNa reta final da campanha, tem buscado o apoio do presidente americano, Donald Trump, na luta contra o crime e não descarta a volta de bases militares estrangeiras, hoje proibidas por lei.Além disso, anunciou uma aliança com Erik Prince, fundador da empresa americana de segurança Blackwater, cujos funcionários mataram e feriram dezenas de civis no Iraque."Precisamos de mais soldados para lutar nesta guerra (...) Setenta por cento da cocaína mundial sai pelo Equador, precisamos da ajuda das forças internacionais", disse à BBC.Sua relação com os governos de esquerda é tensa. Rompeu laços diplomáticos com o México após ordenar uma incursão policial na embaixada do país em Quito para capturar o ex-vice-presidente correísta Jorge Glas, condenado por corrupção.Noboa afirma ter diminuído a taxa de homicídios do recorde de 47 por 100.000 habitantes em 2023 para 38 por 100.000 em 2024. "Nós não somos uma promessa. Nós somos uma realidade", afirmou.Em 2024, o Equador foi o país da América Latina que registou o maior número de homicídios proporcionalmente à sua população, segundo o 'think tank' Insight Crime.Jovem influencerNoboa se define como de centro-esquerda, mas venceu com o apoio de parte da direita e adota uma política econômica neoliberal --na prática, um governo de centro-direita.Nas redes sociais, mostra-se próximo das pessoas e se apresenta como um católico devoto.Pessoas próximas dizem que é um homem de rotina e disciplina: segue uma dieta balanceada, corre até 10 km por dia, toma shakes de proteína e poucas vezes dorme tarde.O círculo íntimo de Noboa é formado por amigos do colégio e alguns deles fazem parte de sua equipe de trabalho.Nos comícios, seus seguidores fazem fila para conseguir uma das muitas imagens do presidente em tamanho real, distribuídas em todo o país.Com os braços cruzados, de bermudas ou uma roupa informal, estas figuras têm sido usadas pela oposição para chamá-lo de "presidente de papelão". Noboa é casado com Lavinia Valbonesi, uma influenciadora de 26 anos, mãe de dois de seus três filhos.Sua ex-esposa, Gabriela Goldbaum, o acusou perante o Congresso de machismo e violência vicária (praticada contra terceiros para atingir a mulher), ao usar a filha que os dois têm em comum para lhe causar "dor". A empresária diz ter apresentado dezenas de ações contra ele por impedi-la de se comunicar com a menina de cinco anos, entre outros abusos.Esta não é a única denúncia contra Noboa: a vice-presidente Verónica Abad, eleita juntamente com ele na chapa vencedora em 2023, o acusa de violência de gênero por suas tentativas para afastá-la do cargo.Eleição no Equador: Presidente Daniel Noboa disputará segundo turno com a candidata da esquerda Luisa González