G1
Presidente dos Estados Unidos anunciou a imposição de tarifas recíprocas a mais de 180 países. Medida causou uma onda de reações e renovou o temor de que uma guerra comercial está prestes a começar. Trump fala com jornalista a bordo do Air Force One, durante viagem para Miami, na Flórida, em 3 de abril de 2025Reuters/Kent NishimuraA última semana foi bastante agitada para os mercados financeiros e o comércio global, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarar o "Dia da Libertação" americana na quarta-feira, 2 de abril.O dia marcou o início de uma série de novas taxas de importação e o detalhamento das chamadas "tarifas recíprocas" — um conjunto de tarifas contra mais de 180 países que, segundo Trump, "libertariam" os EUA de produtos estrangeiros.A decisão de Trump fez as bolsas de valores ao redor do mundo despencarem, devido ao receio de que sua agenda protecionista possa causar um aumento nos preços e nas taxas de juros nos EUA, afetando a economia global.???? A agenda protecionista de Trump visa favorecer e priorizar a economia doméstica dos EUA, limitando a concorrência estrangeira. Por isso, ele decidiu aumentar as taxas de importação de produtos estrangeiros, incentivando a indústria americana.Diversos países reagiram ao anúncio de Trump, prometendo retaliações com novas tarifas e orientando suas empresas a suspenderem investimentos nos EUA. A situação causou pânico nos mercados, que esperam uma guerra comercial generalizada entre grandes economias.Veja abaixo os principais acontecimentos da semana e sua importância para a economia brasileira e mundial. O tarifaço no 'Dia da Libertação'As reações pelo mundo Os impactos nos mercados financeirosComo as tarifas recíprocas de Trump foram calculadas?O tarifaço no 'Dia da Libertação'Na quarta-feira (2), Trump detalhou a aplicação das "tarifas recíprocas" — um conjunto de taxas para mais de 180 países, com taxas que variam de 10% a 50% e que passam a valer deste sábado (5) até o dia 9.O republicano chamou a data de "Dia da Libertação" dos EUA, afirmando que seria "para sempre lembrada como o dia em que a indústria americana renasceu e o destino da América foi recuperado".Veja a lista completa de taxas cobradas pelos EUA por país? Por que isso é importante? As tarifas recíprocas anunciadas por Trump se somam a uma série de outras taxas de importação já impostas pelos EUA e podem acabar alterando a dinâmica do comércio internacional. Tarifas maiores sobre produtos que chegam aos EUA devem encarecer os próprios produtos e insumos para bens e serviços no país. Especialistas avaliam também que esse encarecimento deve pressionar a inflação e diminuir o consumo, o que pode provocar uma desaceleração ou até recessão da atividade econômica da maior economia do mundoAlém disso, as taxas forçam países que já têm algum relacionamento com os EUA a buscarem novos parceiros. Em comunicado, a Organização Mundial do Comércio (OMC) estimou que as tarifas de Trump devem reduzir os negócios globais em 1% em 2025. As reações pelo mundo A decisão de Trump causou uma onda de reações pelo mundo, com diversos países rechaçando as novas tarifas e prometendo suas próprias contramedidas. Veja algumas das reações:Reino Unido: o secretário de comércio, Jonathan Reynolds afirmou que o país é um "aliado próximo" dos EUA e que focará seus esforços em fazer um acordo para mitigar os efeitos das novas tarifas.França: o presidente francês, Emmanuel Macron, já havia afirmado que as tarifas "não eram coerentes" e que significariam "quebrar cadeias de valor, criar inflação e destruir empregos". Após o anúncio da tarifa, o presidente francês pediu que empresas europeias suspendam os investimentos planejados nos Estados Unidos.União Europeia: a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, disse que via a política comercial de Trump como um passo na direção errada e que tinha um "plano forte" para retaliar Washington. "Não queremos necessariamente retaliar. Mas se for necessário, temos um plano forte para retaliar e o usaremos", afirmou,China: o governo chinês afirmou que as tarifas prejudicariam o sistema de comércio global e na sexta-feira (4) já anunciou tarifas de 34% (a mesma taxa que Trump disse que cobraria) aos produtos importados dos Estados Unidos. A nova taxa passa a valer na próxima quinta-feira (10).?? E o Brasil? Trump afirmou que os EUA passaram a cobrar 10% de todas as importações do Brasil, como parte do decreto que estabelece as tarifas recíprocas. A decisão repercutiu no Congresso Nacional: parlamentares criticaram a medida, alertaram para impactos ao setor produtivo e defenderam reação coordenada do governo brasileiro.Na véspera do anúncio, o Senado Federal aprovou um projeto que cria a chamada Lei da Reciprocidade Econômica. A proposta permite que governo brasileiro retalie países que imponham barreiras comerciais aos seus produtos, inclusive por meio da suspensão de concessões comerciais e de direitos de propriedade intelectual.O texto teve apoio amplo no Congresso e no governo federal, e é uma resposta direta às declarações de Trump, que citou explicitamente o Brasil como exemplo de país que será alvo de novas tarifas.? Por que isso é importante? O aumento da tensão é mais um passo na direção de uma possível guerra comercial. No caso do Brasil, isso pode resultar em um impacto significativo na balança comercial — chegando ao fim à cotação do dólar, e à inflação.Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Como o g1 já mostrou, essa troca de tarifas pode impactar diretamente setores específicos — como o etanol e outros produtos agrícolas —, reduzir a compra e venda de produtos entre os países, e forçar o Brasil a estreitar relações com outros parceiros comerciais.'Não queremos uma guerra comercial': líderes mundiais reagiram com cautela a 'tarifaço' Os impactos nos mercados financeirosA imposição de tarifas por parte de Trump também causou reações nos mercados financeiros globais, com uma queda generalizada de bolsas de valores pelo mundo e avanços expressivos do dólar. A imposição de tarifas por Trump também causou reações no mercado financeiro, com uma queda generalizada das bolsas de valores.Na sexta-feira, os principais índices acionários da Ásia e da Europa encerraram em forte queda, em repercussão ao "tarifaço". As bolsas dos EUA derretem 10% na semana e perderam US$ 6 trilhões em valor de mercado em apenas dois dias.Por aqui, o dólar subiu mais de 3% na sexta-feira e encerrou cotado a R$ 5,83, no maior valor em quase um mês. O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, fechou com queda de 2,96%, aos 127.256 pontos.? Por que isso aconteceu? O principal motivo dessa movimentação nos mercados é a cautela dos investidores quanto aos efeitos das novas tarifas de Trump na economia global.Há temores de que as tarifas impostas pelos EUA aumentem os preços dos produtos e insumos que chegam ao país, o que pode elevar a inflação local para o consumidor. Com isso, a expectativa é de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) precise iniciar um novo ciclo de alta de juros. A situação pode resultar em uma redução do consumo e uma desaceleração econômica, com o receio de que, em um cenário prolongado, haja um período de recessão econômica no país.Além disso, há preocupações sobre o impacto desse ambiente de pressão inflacionária e juros elevados em outros países, potencialmente levando a uma desaceleração global.No mercado financeiro, quanto maior a preocupação e a cautela dos investidores, maior a tendência de optar por ativos de menor risco — como o dólar, considerado uma das moedas mais seguras do mundo —, evitando países emergentes e investimentos em bolsas de valores.