A Casa Branca enviou uma lista abrangente de exigências à universidade na semana passada, que, segundo o governo, visam combater o antissemitismo. Estudantes realizam um protesto com abandono de aulas nos degraus da Low Library da Universidade Columbia
Reuters
O governo do presidente americano Donald Trump disse que está congelando mais de US$ 2 bilhões (R$ 5,8 bilhões) em fundos federais para a Universidade de Harvard, uma das mais prestigiadas do mundo, horas depois que a faculdade rejeitou uma lista de exigências da Casa Branca.
A Casa Branca enviou uma lista de exigências a Harvard na semana passada, que, segundo o governo, visam combater o antissemitismo no campus. Elas incluíam mudanças nas contratações, admissões e ensino.
Desde que Trump foi reeleito, seu governo tem tentado remodelar universidades de elite ameaçando reter fundos federais principalmente para pesquisa.
Harvard se tornou a primeira grande universidade dos EUA a rejeitar as exigências do governo na segunda-feira (14/04), acusando a Casa Branca de tentar "controlar" sua comunidade.
As mudanças radicais exigidas pela Casa Branca transformariam suas operações e cederiam grande parte do controle ao governo.
A carta enviada a Harvard na sexta-feira da semana passada, obtida pelo jornal americano LThe New York Times, dizia que a universidade não havia cumprido as "condições de direitos intelectuais e civis" que justificam o investimento federal.
A carta incluía dez mudanças propostas, entre elas:
denunciar ao governo federal alunos que sejam "hostis" aos valores americanos;
garantir que cada departamento acadêmico tenha "diversidade de pontos de vista";
contratar uma entidade externa aprovada pelo governo para auditar programas e departamentos "que mais alimentam o assédio antissemita";
verificar se há plágio no corpo docente;
O presidente Trump acusou as principais universidades de não protegerem os estudantes judeus quando os campi universitários ao redor do país foram atingidos por protestos contra a guerra em Gaza e o apoio dos EUA a Israel no ano passado.
A carta ordena que a universidade tome medidas disciplinares por "violações" ocorridas durante os protestos.
Ao explicar sua rejeição a essas demandas, o presidente de Harvard, Alan Garber, disse que a universidade não abrirá mão de sua independência nem abrirá mão de seus direitos constitucionais previstos na Primeira Emenda, que protege a liberdade de expressão.
"Embora algumas das demandas delineadas pelo governo visem combater o antissemitismo, a maioria representa uma regulamentação governamental direta das 'condições intelectuais' em Harvard", disse ele.
Pouco depois do envio de sua carta de resistência, o Departamento de Educação disse que congelaria US$ 2,2 bilhões em bolsas e US$ 60 milhões em contratos para Harvard imediatamente.
"A declaração de Harvard hoje reforça a preocupante mentalidade de direito que é endêmica nas universidades e faculdades mais prestigiosas do nosso país", disse o Departamento de Educação em um comunicado.
O comunicado diz que a interrupção do aprendizado que assola os campi é inaceitável e o assédio aos estudantes judeus é intolerável.
Um professor de História em Harvard, David Armitage, disse à BBC que a escola tinha condições de resistir como a universidade mais rica dos EUA e que nenhum preço era alto demais a pagar pela liberdade.
"É um ato não inesperado de prática totalmente infundada e vingativa do governo Trump, que não quer nada mais do que silenciar a liberdade de expressão", disse ele.
Guerra contra universidades
Em março, o governo Trump disse que estava revisando cerca de US$ 256 milhões em contratos e subsídios federais em Harvard, e mais US$ 8,7 bilhões em compromissos de subsídios plurianuais.
Professores de Harvard entraram com uma ação judicial em resposta, alegando que o governo estava atacando ilegalmente a liberdade de expressão e a liberdade acadêmica.
Harvard, que recebe US$ 53 bilhões, é uma das várias universidades de elite na mira da nova presidência.
A Universidade Columbia, na cidade de Nova York, concordou com uma série de exigências no mês passado, depois que a Casa Branca retirou US$ 400 milhões em financiamento federal.
Uma pesquisa realizada pela Gallup no verão passado sugeriu que a confiança no ensino superior vem caindo ao longo do tempo entre americanos de todas as origens políticas, em parte impulsionada pela crença crescente de que as universidades promovem uma agenda política. O declínio foi particularmente acentuado entre os republicanos.
A Columbia concordou com várias das exigências da administração, o que gerou críticas de alguns alunos e professores.
Mais cedo na segunda-feira, um advogado de um dos organizadores de protestos pró-palestinos na Universidade de Columbia disse que seu cliente havia sido preso por agentes de imigração enquanto participava de uma entrevista como parte de seu pedido de cidadania americana.
Mohsen Mahdawi, portador do green card, deve se formar no mês que vem. Ele foi detido na segunda-feira em Colchester, Vermont.
Outros que participaram dos protestos no campus contra a guerra, incluindo Mahmoud Khalil, da Universidade Columbia, e Rumeysa Ozturk, da Universidade Tufts, foram detidos nas últimas semanas.
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Fonte: G1