Eles foram condenados a 9 anos de prisão. Réus podem recorrer da decisão em liberdade. Carro ficou pendurado após deslizamento de terra em Nova Friburgo, em janeiro de 2011
Marcos de Paula/Agência Estado
A Justiça Federal condenou o ex-prefeito de Nova Friburgo (RJ), Dermeval Barboza Moreira Neto, e o ex-secretário municipal, José Ricardo Carvalho de Lima, junto com um empresário, por desvio de verbas públicas destinadas ao socorro das vítimas da tragédia climática que atingiu a cidade da Região Serrana em janeiro de 2011.
Os réus foram condenados a 9 anos, 10 meses e 10 dias de prisão, mas poderão recorrer em liberdade. Os três também foram condenados a ressarcir os cofres públicos em aproximadamente R$ 171 mil, cada.
A ação penal que resultou na condenação foi promovida pelo Ministério Público Federal (MPF). Segundo a denúncia do MPF, os três participaram de um esquema para desviar verbas federais que deveriam ter sido usadas para socorro às vítimas da chuva e reconstrução do município depois da tragédia.
A investigação apontou contratações irregulares, execução duvidosa de serviços e manipulação de documentos para justificar os desvios.
As investigações concluíram que os réus se aproveitaram do estado de calamidade pública decretado depois da tragédia para justificar contratações diretas, sem a devida licitação. Além disso havia direcionamento prévio das contratações para empresas específicas, muitas vezes em prejuízo de concorrentes, que poderiam oferecer melhores preços e serviços.
MEMÓRIA GLOBO relembra cobertura da tragédia
Sobre o crime
Segundo o MPF, para conferir aparência de legalidade, os envolvidos simulavam processos de coleta de preços com orçamentos falsos ou obtidos de empresas inaptas à prestação dos serviços contratados. Documentos administrativos também eram forjados ou alterados retroativamente para encobrir irregularidades e legitimar pagamentos indevidos.
O procurador da República Luís Cláudio Senna Consentino disse que a decisão judicial reforça a ideia de que práticas corruptas, sobretudo em contextos de crise, são condutas de alta reprovabilidade e devem culminar com a punição dos responsáveis.
O MPF ressalta que os réus podem recorrer dessa decisão em liberdade, sendo certo, também, que só podem ser considerados culpados após o trânsito em julgado de decisão definitiva.
Questionado pelo g1, o ex-secretário do município negou as acusações.
"Esta decisão ainda está sob o crivo da justiça e não é definitiva, só irei me manifestar após a decisão se tornar definitiva e na forma que isso acontecer", disse.
O g1 também solicitou um posicionamento do ex-prefeito, mas ele não se pronunciou sobre a decisão da Justiça. A reportagem ainda tenta localizar o empresário que também foi condenado.
Maior desastre natural do Brasil
Nova Friburgo passa ainda por obras após dez anos da tragédia da chuva
A tragédia que atingiu Nova Friburgo em janeiro de 2011 foi um dos desastres naturais mais devastadores da história do Brasil, resultando em aproximadamente 900 mortes em toda a Região Serrana e deixando milhares de desabrigados.
O evento foi comparado a grandes catástrofes mundiais devido à magnitude e impacto destrutivo. Além de interromper serviços essenciais como luz, água e comunicações, o desastre comprometeu hospitais e prédios públicos, dificultando ainda mais a resposta emergencial.
Fonte: G1