Com público de 45 mil pessoas e mais do mesmo, ato sinaliza que Bolsonaro quer dar as cartas em 2026. Bolsonaro participa de ato na avenida paulista
Uma das principais sinalizações políticas do ato pela anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, neste domingo (06), na Avenida Paulista, foi a de que o presidente da Câmara, Hugo Motta do Republicanos, entrou no radar dos bolsonaristas.
O ataque coube ao pastor Silas Malafaia, organizador do encontro. Em seu discurso, ele chamou Hugo Motta de vergonha da Paraíba. Normalmente, Malafaia vocaliza o que não fica bem para a boca de Jair Bolsonaro ou, por exemplo, na boca do líder do PL, o deputado federal Sóstenes Cavalcante.
O parlamentar havia prometido que apresentaria o requerimento para urgência da votação do projeto da anistia no fim de março, mas não cumpriu a promessa, porque não conseguiu a assinatura dos líderes partidários. O fracasso foi atribuído à pressão de Hugo Motta sobre os líderes. Sóstenes partiu, então, para uma segunda estratégia: a coleta de assinaturas individuais.
Imagens aéreas mostram ato na Avenida Paulista a favor da anistia aos condenados do 8 de janeiro
A estratégia de atacar o presidente da Câmara nas ruas é arriscada, porque o PL está implodindo pontes com o Centrão.
A obstrução de votações das comissões e do Plenário da Câmara que o PL vem fazendo, até que o projeto de anistia entre na pauta, já tem irritado os presidentes de comissões dos partidos do Centrão. Agora, a guerra com Hugo Motta pode provocar a solidariedade dos deputados ao novo presidente da Câmara e afastar ainda mais o PL do Centrão.
Dessa forma, o bolsonarismo voltaria às suas origens: atacar os deputados do Centrão como uma quadrilha de ladrões. Na campanha de 2018, quem não se lembra do general Augusto Heleno cantando 'se gritar pegar Centrão, não fica um meu irmão'?. Era uma referência de que o grupo de deputados do bloco de centro é envolvido em corrupção.
Bolsonaro anunciou público de um milhão, mas USP diz que nem 45 mil apareceram
Os atos pela anistia foram mais um fracasso de público, considerando que Bolsonaro anunciou que ia reunir um milhão de pessoas Brasil afora.
O primeiro ato em Copacabana reuniu 18 mil. Hoje, na avenida Paulista, participaram menos de 45 pessoas, segundo levantamento da USP. O ato da esquerda contra a anistia reuniu menos do que todos, 6 mil manifestantes. Os números mostram que a anistia não é um clamor das ruas.
Contudo, se o ato foi uma fracasso de público por um lado, por outro, foi sucesso de crítica, porque lá estavam todos os potenciais candidatos da direita em 2026. Até o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que lançará sua candidatura independente de Bolsonaro, prestigiou o ato.
Mais do mesmo
A única novidade do encontro ficou pela suposta reconciliação de Carlos Bolsonaro e Michele Bolsonaro. Os dois, que não se dão bem, apareceram no alto do trio elétrico. Carlos Bolsonaro estava com a mão no ombro da madrasta.
Ato defende anistia para quem participou do 8 de janeiro
Reprodução/Monitor do Debate Político no Meio Digital & More in Common
Fora isso foi mais do mesmo. Bolsonaro disse que um golpe não se faz com um sorveteiro e um pipoqueiro, dois dos presos pela trama golpista de 8 de janeiro. Ele falou a verdade, mas esqueceu de completar que a acusação de tentativa de golpe não é pela participação do sorveteiro e do pipoqueiro, mas pela participação dele mesmo.
Em reunião com os comandantes militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, Bolsonaro propôs um estado de emergência no Tribunal Superior Eleitoral. Ou seja: dissolver o TSE, prender Alexandre de Moraes e convocar novas eleições, tudo porque ele estava inconformado com a derrota para Lula. Essa é a verdadeira acusação da denúncia, que não fala em pipoqueiro e sorveteiro.
Fonte: G1